- Foi uma temporada muito desafiadora, também como pessoa, às vezes tenho que ser calmo. Eu prefiro o ano passado (risos), mas esse ano me ensinou muitas lições.
A frase de Max Verstappen logo após conquistar o tetra da Fórmula 1 mostra um pouco do que se passa na mente do campeão. O domínio absoluto de 2023, temporada com recorde de vitórias, virou pressão em 2024. Afinal, a queda de desempenho da RBR aliada à melhora de McLaren e Ferrari tornou mais intensa a luta pelo título.
Dentro das pistas, o holandês demonstrou muita consistência e tranquilidade para minimizar a fase ruim da equipe e assegurar o campeonato. Fora delas, por outro lado, o momento trouxe à tona uma versão mais expressiva e afiada de Verstappen. É verdade que o piloto sempre foi direto e franco em suas declarações, mas ele se mostrou mais vocal e teceu comentários sobre o carro da RBR, seus críticos e até mesmo sobre questões sem tanta relação direta com o campeonato de 2024.
Polêmica dos palavrões
Tudo começou em setembro, com a decisão de Mohammed ben Sulayem, presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), de pedir aos pilotos para que falassem menos palavrões no rádio. Sulayem chegou a afirmar que era necessário "diferenciar o automobilismo da música rap", fala que foi criticada por Lewis Hamilton.
Um dia depois, o tetracampeão foi investigado pela entidade e punido com serviços comunitários por ter xingado durante a coletiva de imprensa para o GP de Singapura. Antes mesmo da sanção, Max já havia se manifestado contra a decisão da FIA:
- Vão xingar de qualquer forma. Se não for nesta sala, talvez em outro lugar. Todo mundo fala palavrão. Claro que o insulto é outra coisa.
Mas não parou por aí. Em protesto ainda em Singapura pelo veto, o piloto ficou quase monossilábico nas entrevistas após a classificação e decidiu dar uma coletiva própria fora da sala de imprensa. Em meio aos jornalistas, Verstappen afirmou que a questão era uma "grande bobagem" e ironizou:
- Não, talvez eu seja multado ou ganhe um dia de trabalho extra, então... Não é nada contra vocês, não se preocupem. Não quero chateá-los. E eu estou falando, só que menos. Tem um problema com a minha voz.
Verstappen também cogitou deixar a Fórmula 1, como em outros momentos, e admitiu o cansaço com "coisas bobas". Quatro semanas depois, o holandês disse que "falaria menos", mas manteve a posição contrária ao veto.
Controle da RBR sobre passatempos
Um dos grandes hobbies de Max Verstappen é o automobilismo virtual: neste ano, o tetracampeão venceu a corrida das 24 horas de Nurburgring enquanto também ganhava o GP da Emilia-Romagna de Fórmula 1. No entanto, depois de sete vitórias em dez provas na atual temporada da F1, a RBR passou a perder terreno para McLaren e Ferrari, e a equipe inicialmente apontou as noites em que ele passa jogando nos simuladores como um dos fatores para a queda de desempenho do holandês.
Depois do quinto lugar no GP da Hungria - que, naquele momento, era a terceira prova seguida de Max sem vitória -, a RBR proibiu o piloto de jogar durante a madrugada. Helmut Marko, consultor da equipe, afirmou na ocasião que percebeu Verstappen "muito irritado" durante o fim de semana e justificou com a ausência de sono.
É claro que o piloto não ficou nada satisfeito com a decisão. Embora tenha dito que conversou com a equipe a respeito, Verstappen foi incisivo ao falar sobre o assunto com a imprensa e discordou da medida:
- Eu não preciso dizer a eles (RBR) o que podem fazer no tempo livre e durante os finais de semana de corrida, e para mim é a mesma coisa.
Pavio curto com críticos
Esta sempre foi uma característica de Max Verstappen e não deixou de aparecer durante a temporada de 2024. No GP da Hungria, o mesmo em que foi questionado sobre os jogos eletrônicos, o líder da F1 se mostrou muito irritado com as decisões dos comissários na prova e com o plano da RBR.
Gianpiero Lambiase, engenheiro da equipe austríaca, tentou acalmar o piloto, mas chegou a chamá-lo de infantil depois das incessantes reclamações pelo rádio. Depois da corrida, Verstappen foi questionado sobre o estresse e deu resposta curta e grossa:
- Eles (críticos) podem ir se f... - disse.
Já antes do GP de São Paulo, Verstappen foi criticado pelo ex-piloto Damon Hill, campeão pela Williams em 1996. Na ocasião, o britânico comparou o holandês ao personagem "Dick Vigarista". Na ficção, o vilão utiliza recursos ilegais ou antiéticos para vencer corridas. O até então tricampeão rebateu:
- Eu não escuto esses indivíduos. Eu apenas faço minhas coisas. Eu sou tricampeão mundial. Eu acho que sei o que estou fazendo - respondeu Verstappen, que conquistaria pouco depois aquela que crê ser a melhor vitória da carreira, ao sair do 17º lugar em Interlagos.
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