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Como Allan enfrentou incêndios e morte da irmã antes de brilhar no Palmeiras

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Fabrício Elias se ajoelhou, lágrimas escorrendo pelo rosto, enquanto escutava a esposa clamando na varanda e segurava o celular em frente à televisão da sala. Ele testemunhava a realização de um sonho: o primeiro gol do filho como jogador profissional. Allan Elias marcava contra o Mirassol, garantindo a passagem do Palmeiras para a fase de mata-mata do Campeonato Paulista.

– Foram sete anos de batalha. Não foi fácil por aqui. Meu coração está em chamas.

Em 2019, deixaram tudo para trás a pedido do filho, que sentia a ausência de um amigo que havia falecido no incêndio no alojamento da base do Flamengo. Percorreram 700 km de Florianópolis a São Paulo, levando em seu carro as roupas, um micro-ondas e a televisão. "Levamos tudo que podíamos", afirma Fabrício.

Cinco anos depois, eles veem o garoto brilhar, sendo decisivo e fazendo homenagens à irmã em campo, como ocorreu contra Mirassol e Cruzeiro na 11ª rodada do Campeonato Brasileiro. O L, levantado com orgulho em cada celebração, é dedicado à irmã Letícia, que faleceu aos 20 anos devido à Covid-19 durante a pandemia. Portanto, os sete anos de luta mencionados pelo pai têm um contexto profundo.

Allan iniciou sua trajetória no futsal aos sete anos, jogando no 12 de Agosto, em Florianópolis, mesmo em categorias acima da sua idade. O meião que usava quase parecia uma calça, recorda o pai, e seu cabelo, em um estilo moicano e com a cor amarela, refletia a época de ascensão de Neymar, o que lhe rendeu o apelido de Balotelli mirim.

Essas memórias são guardadas com carinho, pois muitos registros foram perdidos pela família em um incêndio na Comunidade da Vila Aparecida, onde moravam em Floripa antes da mudança.

O incêndio na casa da vizinha se espalhou, afetando outras sete residências, e perderam tudo.

— relembra Fabrício, pai do jogador.

Com o tempo, ao se reerguerem, Allan recebeu uma proposta do Figueirense e, aos 14 anos, começou a treinar no clube que ficava a apenas 20 minutos de sua casa. Conseguiu uma vaga na Seleção Sub-15 e chamou a atenção do Palmeiras durante uma competição em Minas Gerais, mudando-se em 2019, inicialmente, sozinho.

Porém, em 8 de fevereiro de 2019, o incêndio no alojamento da base do Flamengo resultou na morte de 10 meninos, com idades entre 14 e 16 anos. Um deles era Vitor Isaias, amigo de Allan, com quem havia jogado na base do Figueirense.

Causado por um curto-circuito no ar-condicionado de um dos quartos, o fogo se alastrou rapidamente, dando apenas 45 segundos para 10 dos 14 sobreviventes escaparem pela única porta disponível. Outros três foram resgatados pela janela, e um conseguiu sair sozinho pelas grades de alumínio.

O amigo de Allan, Vitor Isaias, conseguiu sair do quarto onde dormia, junto com outros quatro meninos (Arthur, Pablo Henrique, Gedinho e Bernardo), mas perdeu a consciência antes de alcançar a porta. Nenhum deles conseguiu chegar até ela.

Allan estava apreensivo com a possibilidade de ficar sozinho e sentiu profundamente a perda, então pedi demissão e me mudei. Eu trabalhava como vigilante e minha esposa como auxiliar de serviços gerais. Deixamos tudo para trás com coragem e determinação - relata Fabrício, refletindo sobre as dificuldades que tiveram que superar.

Em maio daquele ano, eles pegaram o carro, com o avô de Allan ao volante, enquanto a avó, o pai Fabrício e a mãe Débora os acompanhavam na jornada para São Paulo. Inicialmente, moraram em uma kitnet na Rua Diana, que possuía um “corredor comunitário”, detalha Fabrício; depois mudaram-se para a Pompeia e atualmente residem perto da Academia de Futebol.

Desde o princípio, eles foram o apoio de Allan, sempre conversando os três ao redor da mesa da casa sempre que enfrentavam períodos complicados. Isso aconteceu especialmente após a perda da irmã, Letícia, sobre a qual o pai não menciona muito. E também nos momentos de desânimo, como quando Allan via os amigos sendo promovidos para a equipe profissional sem ele.

Em 2024, ocorreu a mudança decisiva, quando Allan passou a usar a camisa 10 na categoria sub-20, e em 2025 foi promovido ao time principal, recebendo elogios de Abel Ferreira e desempenhando um papel fundamental na classificação do Palmeiras para as quartas de final do Campeonato Estadual. Ele quase marcou um gol contra as equipes Novorizontino e Bragantino, mas para o pai, chegou "na hora certa".

Essa conquista levou a família a uma celebração cheia de alívio, como pode ser visto no vídeo que viralizou nas redes sociais após a vitória do Verdão. Eles nem conseguiram dormir naquela noite. Às três horas da manhã, foram até a Academia de Futebol, que fica quase em frente à sua casa, para buscar o garoto.

– Eu disse a ele: parabéns, Deus tem um plano. Isso já estava escrito, eu te falei que você entraria em jogos e o gol seria uma consequência. E o Flaco me comentou: parabéns pelo seu filho, ele é um grande jogador e vai brilhar muito no futebol – conta o pai, com satisfação.

Depois de marcar o gol, Allan perdeu espaço e ficou sete partidas no banco, antes de retornar na Libertadores, jogando contra o Cerro Porteño. Gradualmente, foi recuperando seu lugar no time, iniciando três partidas como titular a partir de maio, com uma assistência contra o Sporting Cristal e um gol diante do Cruzeiro. No sábado, seu contrato foi renovado por mais quatro anos, até o final de 2029.

Agora, na Copa do Mundo de Clubes, ele vive o sonho de marcar seu nome na história do Palmeiras.

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